[Presos] Europol: A no va polícia política
CNA - SP
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Wed May 8 17:33:51 CEST 2002
Europol: A nova polícia política
Poucas pessoas já ouviram falar da Europol e, das que ouviram, poucas sabem do
que se trata realmente ou que poderes possui. Tristemente, o objetivo dos
governantes parece ser esse mesmo: construir esta organização policial européia
em segredo, nas suas conferências e cimeiras, conferindo-lhe poderes bastante
amplos em termos de controle e repressão da dissidência política.
Criada em 1995, a Europol tem vindo desde então a ganhar uma série de poderes
que, a nosso ver, a tornam numa nova polícia política ao serviço do regime
democrático-capitalista. Desde 1999 que lhe foram conferidas competências no
sentido da criação de uma unidade anti-terrorista. E, logo na 1ª Conferência
Anti-Terrorista da Europol, realizada em Madri, em Fevereiro de 2001, aprovou-
se o Documento Madri que, após a análise de grupos radicais, propõe apoiar a
iniciativa espanhola, italiana, grega e portuguesa de investigação relativa ao
terrorismo anarquista e de impulsionar o estabelecimento de um plano de
recompensas ou incentivos econômicos para aquelas pessoas que forneçam
informações. Qualquer semelhança com uma polícia política e a sua respectiva
rede de bufos não será pura coincidência.
A definição de terrorismo no âmbito da União Européia torna-se oficialmente
cada vez mais ampla e não se limita à atividade de pessoas integradas em grupos
armados, mas a qualquer um que, uma vez qualificado como anarquista ou, no
termo de sentido mais amplo, de radical, se oponha ao pensamento único e
pratique, ainda que sem a utilização de violência alguma, a dissidência
política.
Ainda em Fevereiro de 2001, Espanha e Itália criam uma equipe conjunta de
investigação sobre terrorismo anarquista.
Em Junho de 2001, o Parlamento Europeu concorda em preparar três recomendações
ao Conselho Europeu, propostas pelos dois maiores partidos políticos espanhóis
(PP e PSOE): a urgente aprovação do Espaço Judicial Europeu (reconhecimento
mútuo das resoluções judiciais), a tipificação comum do delito de terrorismo e
a aprovação do mandato de busca e captura (o desaparecimento do atual processo
de extradição). O ambíguo Conceito de Terrorismo, o Euro-mandato de busca e
captura e o Espaço Judicial Europeu, implicam sem dúvida a arbitrariedade, o
policiamento e a eliminação de recursos e garantias jurídicas e,
definitivamente, a destruição da noção de delito político, que havia
constituído o núcleo central do direito liberal continental depois da Revolução
Francesa. É a produção em cadeia capitalista aplicada aos assuntos judiciais: o
que importa é obter lucros, trata-se de automatizar e mecanizar, que os
processos sejam rápidos, não importa nem como nem à custa do quê. Trata-se de
eliminar os seus únicos obstáculos neste processo: as liberdades básicas, os
advogados de defesa, os processos judiciais, os juizes recalcitrantes segundo
o advogado espanhol dissidente Endika Zulueta.
Em Julho de 2001, no rescaldo dos protestos contra o encontro UE-EUA em
Gotemburgo e contra a cimeira do Banco Mundial em Barcelona, ambos fortemente
reprimidos pelos corpos polícias, inclusive com balas reais em Gotemburgo,
realiza-se em Bruxelas um conselho de Ministros da Justiça e do Interior da
União Européia sobre Segurança das reuniões do Conselho Europeu e de outros
eventos que possam ter um impacto comparável. Antecedendo a brutal repressão
dos protestos protagonizados por 300 mil pessoas contra a reunião do G8 em
Gênova nesse mesmo mês de Julho, que resultaria na morte do manifestante Carlo
Giuliani, no desaparecimento de outros tantos e em centenas de casos de
espancamentos, tortura e detenções arbitrárias por parte dos carabinieri
italianos, esta reunião de Ministros elabora cinco medidas de restrição de
direitos fundamentais reconhecidos pelas Constituições Estatais. Entre outras
encontram-se a possibilidade de aumentar as competências da Europol na
elaboração de uma análise comum dos distúrbios, o reforço e fomento de uma
troca rápida e estruturada de dados relativos a manifestantes violentos com
base em ficheiros nacionais, medidas de expulsão de manifestantes, assim
como o impedir que pessoas reputadas como autoras de distúrbios à ordem entrem
no país anfitrião do acontecimento.
Em Agosto de 2001, os Ministros do Interior da Itália e da Alemanha manifestam-
se a favor da criação de uma polícia européia anti-distúrbios que possa fazer
frente aos crescentes protestos anti-capitalistas durante as cimeiras dos
poderosos.
Em Setembro de 2001, o Parlamento Europeu debate a possibilidade de os Estados
realizarem vigilâncias massivas do correio dos cidadãos, reconhecendo-se a
possibilidade de as mensagens poderem ser interceptadas quando esteja em perigo
a segurança do Estado. A presidência espanhola da UE, durante o primeiro
semestre de 2002, tem feito tudo por concretizar todas as propostas possíveis
de incremento da repressão sobre movimentos sociais e políticos anti-
capitalistas. Logo em Janeiro deste ano, teve lugar em Madri uma reunião de
representantes de todos os Estados da UE e das respectivas polícias sobre o uso
das novas tecnologias em matérias policiais. Nesta conferência a proposta mais
importante foi a do estabelecimento de um Centro de Alerta e Investigação
Tecnológica à escala da União Européia. O citado Centro, controlado pela
Europol, não seria mais que oficializar o controle que a Europa policial tem
sobre os cidadãos através das novas tecnologias, especialmente a Internet e o
telefone móvel, tentando dar cobertura àquilo que, de todas as perspectivas,
vulnera vários direitos fundamentais. No Estado espanhol, o responsável pela
elaboração da proposta de criação do Centro, os corpos especiais criados para o
efeito reconhecem estar controlando a dissidência política através da Rede.
Tanto os serviços de polícia como os da guarda civil dedicam-se a rastear as
comunicações de oito servidores alternativos da Rede, pelo simples fato de
difundirem comunicações do movimento anti-globalização. As preocupações que
aqui transmitimos são mais do que paranóias de militantes radicais ou
baboseiras sem interesse para o comum cidadão.
A situação repressiva está tornando-se tão grave que já levou a insuspeita
Amnistia Internacional a lançar uma campanha com o lema Mais Europa, Mais
Justa!, solicitando à presidência espanhola da UE que inclua os Direitos
Humanos na sua agenda de trabalho, considerando que o incremento da segurança
na UE está reduzindo os Direitos Humanos, apontando como algumas das questões
mais preocupantes as denúncias por maus tratos e torturas que se produzem no
âmbito da UE. Também a Statewatch, uma organização não governamental que vigia
os atentados dos Estados Europeus contra as liberdades cívicas, manifestou a
sua preocupação face às tentativas dos líderes da UE tendentes à
criminalização, não só das atividades anarquistas, mas de qualquer forma de
ativismo político anti-capitalista, desde os protestos anti-globalização até às
simples manifestações sindicais. Por isso nos manifestamos!!!
CONTRA A EUROPOL, CONTRA A REPRESSÃO POLICIAL, CONTRA UM SISTEMA QUE NOS DEVORA
E CONVERTE EM ESCRAVOS!
Cruz Negra Anarquista - São Paulo
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