[Presos] (no subject)
grupo dinamo
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Thu Sep 12 13:37:22 CEST 2002
A verdade é como o azeite misturado com água, mas quando começar a vir ao
de cima é que vão ser elas, é só uma questão de tempo- um amigo preso
Caros/as amigos/as.
Respondendo ao apelo de um preso de um estabelecimento prisional português
procedemos à divulgação de um comunicado dirigido por este recluso a todas
as mães do mundo e a todos os seres humanos que se sintam indignados com o
autêntico extermínio que o Estado leva a cabo nos estabelecimentos
prisionais de todo o país. Às várias doenças que se propagam entre muros,
aos ineficazes ou inexistentes cuidados básicos de saúde, à proliferação de
drogas legais e ilegais tão úteis para manter os presos submissos, aos
suicídios induzidos pelas condições físicas e psicológicas criadas pela
instituição prisional, à total neutralização do indivíduo como ser livre,
pensante e digno, somam-se às causas de morte nas prisões os assassinatos
praticado pelos guardas e encobertos por todo o sistema judicial. O caso do
Marco, assassinado no passado dia 22 de Agosto numa cela disciplinar do
Estabelecimento Prisional de Lisboa é apenas mais um entre muitos outros
que, por diversos motivos, não saem à luz do dia. Daqui saudamos a coragem
dos pais do Marco em sacar da obscuridade em que se rasteja nos meandros
penitenciários, a verdade sobre a morte do seu filho. Esperamos que o seu
exemplo seja seguido por outros familiares e amigos de presos e que juntos
possamos ganhar a força necessária para pelo menos impor ao Estado as
extremamente necessárias melhoras nas condições de vida dos reclusos.
Pedimos a todos os interessados que divulguem este comunicado pelos meios
que acharem necessários, nomeadamente à porta de estabelecimentos prisionais
e junto a familiares de presos.
Almada, 11 de Setembro de 2002
COMUNICADO:
A todas as mães do mundo
Nós! Reclusos detidos nestes estabelecimentos prisionais e de morte, nestes
autênticos castelos feudais, autênticos campos de extermínio, que ontem
éramos carne para canhão, agora carne para caixão.
Vimos apelar, depois de termos visto na televisão e sem encenações
hollywoodianas uma mãe em completo desespero a alertar e a pedir a todas
as mães do mundo para que se sensibilizem em busca da verdade.
Por isso, nós vimos pedir a todas as mães, sem excepção, dos que se
encontram detidos e não só, a MANIFESTAREM-SE diante de todas as prisões
portuguesas, a fazerem vigílias, em favor da verdade, pela nossa segurança,
pela nossa dignidade, pelos nossos mais elementares direitos.
Sim! Estamos sequestrados por este Estado de Direito, onde os mais
elementares valores de dignidade humana são postos de parte.
Sim! É verdade, as ameaças, as provocações, a falta de educação e cultura,
as armadilhas provocadas por parte de certos elementos da corporação e da
instituição, as agressões sem explicações.
Sim! É verdade a mortalidade (por vezes mortes sem qualquer explicação) que
se vêm verificando nas prisões portuguesas, é algo que ultrapassa os limites
do tolerável e do admissível, nem no tempo da outra senhora se passava o
que actualmente acontece.
Sim! Somos autênticos reféns do Estado de Direito e os detentores da
verdade não param de mentir, de encobrir e de manipular a verdade, os
números, os dados, a informação, não se sabendo a favor de quem.
Sim! Sejamos solidários e objectivos, não façamos como certos dirigentes do
nosso Estado, que fazem como a avestruz, que quando lhes toca metem a cabeça
na areia, não assumindo as suas responsabilidades, mas com cheques chorudos
ao final do mês.
Não! À exploração da mão-de-obra prisional.
Sim! À legalidade!
Por isso e face ao exposto, fazemos um apelo a todas as mães de Portugal e
do Mundo a ajudá-los para que possam refazer as suas vidas.
Sim! Só uma diferente vontade política e a pressão da opinião pública farão
alterar o que se passa nas prisões. Mais do que em qualquer outro lugar, lá
é essencial haver ordem e disciplina mas
de ambas as partes.
Sim! Exigimos a verdade!
Sim! Exigimos os nossos direitos (também os temos, mas não são respeitados
pela instituição, nem pelo seu corpo de guardas prisionais).
Sim! Vamos lutar pela nossa dignidade e pela deles!
Sim! Vamos fazer tudo isto por eles, pois amanhã poderá ser o seu filho a
cair nas garras da justiça e nas malhas da prisão e a sair num caixão.
Sim! Pela verdade, pela liberdade, pela dignidade, pela justiça, pela
justiça!
09/09/2002 Um recluso dum estabelecimento prisional
português
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